segunda-feira, 19 de outubro de 2009

ONG usa reciclagem para integrar jovens carentes

Seleciona, deixa de molho, põe cola, mistura, passa na forma, tira o excesso de água, prensa e seca. Esse é o processo de reciclagem de papel sulfite feito pelo Instituto de Reciclagem do Adolescente, uma organização sem fins lucrativos que busca no desenvolvimento sustentável um caminho para a integração social de jovens moradores da favela do Jaguaré, zona oeste de São Paulo.

“É bom trabalhar aqui”, conta Mayara Santos, funcionária do Instituto e moradora da região. Com jornada de trabalho de 5 horas diárias, a estudante assiste, no próprio Instituto, a aulas complementares de português, matemática, conhecimentos gerais e informática. Além disso, recebe um salário mínimo e tem registro em carteira.

Fundado em 1995 por um grupo de executivos e empresários que desejavam preservar o meio ambiente e, sobretudo promover uma transformação social, o Instituto oferece aos adolescentes da região, através do programa Educação para o Trabalho e Cidadania, oportunidades de desenvolvimento. A coordenadora pedagógica, Moira Demangi, explica que o foco dos projetos criados pela ONG é ressaltar princípios básicos, como o trabalho em equipe, responsabilidade, pontualidade e sustentabilidade, impulsionando os estudantes a novos desafios. “Queremos inserir os jovens da favela em uma realidade diferente e mostrar que através do estudo é possível uma transformação social. A reciclagem é o meio usado para isso”, revela.

As vagas do Instituto podem ser preenchidas por qualquer aluno regularmente matriculado, que tenha entre 14 e 19 anos e tire boas notas na escola. As aulas são ministradas por professores autônomos graduados e que possuem mestrado. Atualmente 100 jovens participam dos programas e há um acompanhamento de seu desempenho escolar.

O processo de reciclagem é coordenado pelo educador e técnico em papel e celulose João Batista da Cruz. Segundo ele, o maior desafio é conciliar a educação dos jovens, o prazo para a entrega e a qualidade dos produtos. “Descobrir como fazer um papel de qualidade sem agredir o meio ambiente e os estudantes é minha maior preocupação”, explica. Os produtos desenvolvidos são feitos com materiais biodegradáveis e não-tóxicos, conforme as normas do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Paulo Roberto de Carvalho, gerente administrativo do Instituto, ressalta que a maior dificuldade é manter financeiramente o projeto. A renda da ONG é obtida através das vendas dos produtos e, em grande parte, de doações. Com mais de 40 parceiros entre empresas e pessoas físicas, o Instituto procura desenvolver materiais que diferenciem seus produtos.

A qualidade empregada, a preocupação com a sustentabilidade e o caráter beneficente do Instituto chamaram a atenção da rede de supermercados Carrefour, que doou, em 2007, o prédio da atual sede. “Uma assistente social da rede viu uma pasta feita por nós e se interessou. Entrou em contato e uma semana depois financiaram o novo espaço”, lembra o gerente. Carvalho buscou outros parceiros para finalizar a obra que resultou num amplo espaço com salas de aula, refeitório, escritório administrativo e uma área de produção.

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