domingo, 20 de setembro de 2009

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Visão deturpada se corrige

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Nossa visão sobre política encontra-se deturpada, sofremos da cegueira social, da indiferença crônica, do desapego à vida.

Nas assembléias gregas votações eram feitas e decisões tomadas, mas a discussão política não estava restrita àquele ambiente, pelo contrário, havia o entendimento da coisa pública, onde a participação de cada cidadão era essencial. Debatia-se nas universidades, nas praças, nas ruas. Os políticos faziam política a todo momento, conversavam com a população, participavam da economia cotidiana. Percebemos, contudo, que a idéia de participação ativa dos indivíduos da comunidade foi se deteriorando com o passar dos séculos. Nesse âmbito, outro fator deve ser levado em consideração: a ambição do homem se materializou no conceito de poder. A dominação do homem pelo homem atingiu seu ápice na manipulação política. Doutrinas voltadas ao desenvolvimento econômico foram criadas como forma de sacralizar a ambição humana pelo dinheiro e poder. Foi então, com a reforma protestante que o cenário político confirmou seu novo rumo, maior desenvolvimento e uma mudança no foco econômico e religioso.

Com a formação das monarquias nacionais o poder estava assentado. Surge a figura onipresente do rei. Símbolo áureo do poder e da ambição, tem o destino de uma nação sob sua responsabilidade.

A ambição humana ultrapassa barreiras em situações de completo domínio. A política outrora pensada em conjunto, vê-se agora como um ofício para poucos, para escolhidos.

Teóricos como Maquiavel mostram como utilizar o poder adquirido para expandir seu domínio e tornar-se aceito pela população, se não pelo amor, pelo temor. Suas teorias expostas no livro “A arte da Guerra” e em “O Príncipe” denotam tais idéias.

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“Um príncipe hábil deve pensar na maneira pelo qual possa fazer com que seus cidadãos sempre e em qualquer circunstância tenham necessidade do Estado e dele mesmo, e este, então, sempre lhe serão fieis.”

MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe, cap XIV Do principado civil

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O poder cria um modo de ser, agir e dominar. Tal mudança faz com que haja um distanciamento da população que já não se sente parte operante do processo, ao contrário, a postura política adotada pelo monarca ou por representantes atuais de governo foge do conceito grego defendido por Hannah Arendt, em que a pluralidade de homens faz a política.

Poderes absolutos como o conquistado por Átila, o Huno também nos revelam o entendimento dos novos líderes políticos:

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“O rei pode usar seu poder e sua fúria para intimidar e ganhar respeito e consideração do odioso império. Eu próprio, destituirei imediatamente aquele que se julgar com poderes para usar essa mesma influência sobre minhas ações.”

ROBERTS, Wess – Segredos de Liderança de Átila, o Huno

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Muda-se o foco, mudam as atitudes. A política se fechou e foi transmitida desta maneira imperialista aos povos conquistados. O entendimento de política encontra-se desgastado entre a massa e restrito a nichos intelectualizados. Tal percepção torna-se mais nítida quanto maior é a educação de um povo. Uma vez que, com “olhos adaptados” à nova realidade é possível perceber que apesar do ser político ter sido corrompido pelo poder, a democracia deve permanecer coesa e ativa. Quando tal regime é escolhido, deve-se ter em mente a responsabilidade assumida, não somente do representante, mas do eleitorado também.

Na realidade atual, permanecer passivo diante dos movimentos políticos e econômicos é cavar a própria cova. Se o poder está instaurado, cabe à população retomar o controle e se fazer ouvida. Não é na ignorância que conseguimos respeito. Não é dormindo que venceremos a batalha.

O poder pode ser a ambição máxima de todo homem, mas o poder político deve ser sinônimo de ética e responsabilidade. Governar é algo complexo, eleger também. Mas convém estar preparado para que não sejamos subjugados por falta de coragem e decisão.

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