quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Olá pessoal!


Entrevistei um profissional que vale muito a pena conhecer! Aproveitem!


PERFIL DO ENTREVISTADO

Maestro, diretor musical, compositor, professor da Universidade Metodista de São Paulo desde 2001, ganhador de 11 prêmios de teatro e cinema, entre eles o APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), Mambembe e Prêmio Shell, já compôs e produziu a trilha sonora de quatro curtas-metragens e três programas de televisão, esse é... DYONÍSIO MORENO.


Os desafios de um compositor


KRAINEM: Como iniciou na carreira musical?

DYONÍSIO: Estudo piano desde os cinco anos, porém como um hobby, a alegria da família. Sempre tive muita facilidade musical e bom ouvido para tocar sem partitura. Na faculdade porém, para agradar minha família, escolhi engenharia, dois anos depois estava quase morrendo. Então tomei coragem e fui fazer publicidade. Parei com a engenharia e prestei para música, fazendo junto de publicidade. A propaganda foi uma ponte para o que gostava já que era uma área relacionada à música, à fotografia, enfim, às artes em geral. Fiz quatro anos na faculdade de música, com especialização em composição e regência, mas continuei por mais uns dez estudando composição.


KRAINEM: Em sua opinião, qual foi o período de maior efervescência musical no Brasil?

DYONISIO: Sem dúvida foi a época de 60 e 70, da Bossa Nova, dos festivais e do Tropicalismo. Todos esses movimentos eram muito originais e ricos musicalmente e esteticamente falando. A Bossa Nova é um estilo de música que buscou inspiração no impressionismo francês; ela influenciou a música do mundo inteiro, no inicio “bebeu” um pouco no jazz, mas quando se estruturou ocorreu o inverso. Depois, o tropicalismo utilizou de elementos da Bossa Nova, do folclore brasileiro e do rock da Jovem Guarda que também foi um movimento muito importante.


KRAINEM: Como era antigamente a produção musical sem toda a aparelhagem técnica?

DYONISIO: Antes desse avanço tecnológico o elenco era mais preparado para ter uma postura vocal apropriada para teatro, hoje eles estudam já sabendo que terão microfones.

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KRAINEM: Como diretor musical da peça “O Primo Basílio”, qual foi a sua primeira preocupação quando recebeu o roteiro?

DYONISIO: O “Primo Basílio”, editado em 1878, teve seu roteiro adaptado para o Rio de Janeiro do final da década de 50. Então, o texto passou para uma linguagem de época e as músicas também. Temos bossa nova, samba canção, boleto, tango... Minha primeira preocupação foi ouvir a música daquela época para procurar entender o clima e o estilo da estética da peça, já que eu não podia sair muito fora do roteiro. Por outro lado, acredito que a função de um compositor como artista não seja reproduzir integralmente a época; temos sim uma liberdade poética de extrapolar um pouco e foi o que busquei na concepção dos arranjos, entendendo a estética da época e acrescentando alguma personalidade naquele conjunto de músicas.


KRAINEM: Qual foi o seu papel como diretor na peça?

DYONISIO: Não escolhi as músicas, elas já vieram na adaptação. Eu escrevi os arranjos e fiz a direção musical de cena, decidi como os músicos tocariam e cantariam, além de suas entradas e saídas de cena. O espetáculo tem cinco entradas, cinco músicas de cena que não são de época e foram feitas especialmente para a ocasião. Há um tema próprio para a personagem Juliana, apresentada de quatro formas diferentes e outro para a personagem Castro, o banqueiro.


KRAINEM: Já compôs para peças épicas como “Tristão e Isolda”, de época como “O Primo Basílio” e até superproduções como “Miranda”. Como se prepara para situações tão inusitadas e diferentes entre si?

DYONISIO: Penso que tanto um compositor de teatro como de cinema tem que possuir uma cultura musical ampla, conhecer desde o canto gregoriano até os experimentos mais novos de música contemporânea. Se ele não tiver tal preparo haverá barreiras ao produzir certos trabalhos. A faculdade de música já fornece um direcionamento preparatório, mas além disso, há a música popular que você conhece a partir do seu interesse e amplia seu repertório.

.KRAINEM: Qual a principal diferença entre compor trilha para teatro e cinema?

DYONISIO: A diferença base é que o teatro é vivo, as pessoas estão em cena. Eu como diretor musical, tenho que sincronizar a sequência e a ação dramática, a entrada e a saída de luz e do cenário. É muito pessoal esse trabalho porque o ator que está em cena faz cada dia um pouquinho diferente, não é como no cinema em que a estrutura musical é fixa de modo a não permitir maiores “rompantes” dos atores.

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KRAINEM: Uma trilha sonora já está preestabelecida com o roteiro ou o compositor tem liberdade de adaptação?

DYONÍSIO: O compositor deve ter liberdade. O roteiro não é o espetáculo, assim como a partitura não é a música. A música é o que se ouve. Há roteiros fechados, em que o diretor quer aquilo, daquele jeito porque essa é a concepção dele. Mas acho que o melhor que um diretor pode fazer é permitir que o compositor sugira, adapte e melhore seu roteiro.

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KRAINEM: Já recebeu mais de 9 prêmios de teatro, como o Shell e o APETESP, sendo também premiado nos festivais de cinema de Havana e Gramado, a que relaciona tamanho sucesso?

DYONÍSIO: Sucesso... No Brasil ganhar um prêmio não leva você a sucesso. Quando fiz o espetáculo “Maria a borralheira” ganhei todos os prêmios para o teatro do estado de São Paulo, e, após isso fiquei dois anos sem trabalhar. Se você tivesse nos Estados Unidos e ganha um prêmio grande sua carreira já está consolidada, aqui isso não acontece.

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