Pensei em uma crônica, espero que gostem!
Uma sopa, por favor!
Certo dia a pálida senhora chegou para sua habitual refeição. Gabrielle, a garçonete, se aproximou e tentou estabelecer contato:
- Olá senhora...., senhora...., bem, qual é seu nome mesmo?
Silêncio foi a resposta, somente abriu o cardápio e indicou seu pedido: uma sopa quente.
- Ah...claro, já imaginava, só um momento. – respondeu a garçonete.
Após quase dois meses servindo a mesma refeição para a sombria senhora, Gabrielle resolveu desvendar tamanho mistério. Assim que avistou a cliente, serviu-a rápido e avisou que iria sair.
Esperou ansiosa fora do cômodo e, após alguns minutos apareceu a figura de uma mulher extremamente branca, de olhos azuis bem abertos e longos cabelos brancos. Era ela! Andava rápido e não olhava para trás, Gabrielle a seguia silenciosamente.
Esquinas após esquinas, corredores após corredores, a senhora continuava. Não cumprimentava ninguém, não entrava em quarto algum, apenas andava em frente. Passados alguns minutos eis que a caminhada cessa. Estavam em um beco escuro, já era noite e o lugar parecia mais inóspito.
A garçonete ao longe só observava. De repente, um longo grito quebrou o misterioso encanto, uma luz se acendeu e ouviu-se uma voz vinda de longe dizendo:
- Gabrielle! Gabrielle! Acalme-se! Descanse, já passou! disse a enfermeira.
- Passou...passou...perdi a velha! Não a deixem fugir... – delirava a enferma.
Ao seu lado outros pacientes já prestavam atenção no tumulto, inquietos em suas camas com olhos vidrados na enfermeira que reclamava sem cessar:
- Não aguento mais isso! Toda vez que é a hora da refeição essa criatura derruba toda a sopa e como se não bastasse, ainda repete a tal história da garçonete e me coloca no meio! Sombria.... nem gosto de sopa! Pra mim chega! Manicômios, nunca mais!
Gabrielle olha para o paciente ao seu lado e diz:
- Até que enfim descobri o segredo desta velha: ela enjoou de sopa. Coitada!
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